Sinopse: "Wild rabbit restocking: suitable acclimation conditions foster adaptive behaviour and improve survival..."
Machado R, Magalhães P, Godinho S, Santos P (2017) Wild rabbit restocking: suitable acclimation conditions foster adaptive behaviour and improve survival of captive reared rabbits. World Rabbit Science, 25:407-414.
O coelho-bravo é uma espécie particularmente relevante na região mediterrânica por motivos que vão desde a sua importância económica (espécie cinegética muito apreciada) à ecológica, pelo facto de ser presa de vários predadores e como tal, uma peça importante da cadeia trófica destes ecossistemas.
A espécie é, portanto, muito gerida quer por caçadores, quer por conservacionistas. A gestão do habitat tem geralmente resultados satisfatórios, uma vez que o aumento de água, alimento e abrigo facilmente ajuda as populações existentes. Contudo, a gestão que envolve a introdução de indivíduos numa zona nova, raramente é considerada um sucesso.
Em poucos dias, a maior parte senão a totalidade dos indivíduos perece devido uma multiplicidade de razões. Uma forma de aumentar as probabilidades de sucesso passa por não libertar imediatamente os coelhos na natureza (hard release) mas antes fazê-los passar por um período de aclimatação dentro de um parque que lhes confira alguma protecção (soft release). Tendencialmente, a literatura mostra que este período de adaptação aumenta a taxa de sobrevivência pós-libertação.
O que este estudo trouxe de novo em relação a outros semelhantes foi a extensão do período de aclimatação e da monitorização dos indivíduos. Sabia-se de estudos anteriores que duas semanas de aclimatação em vez de uma levavam a taxas de sobrevivência maiores, mas o que aconteceria se o período fosse de, por exemplo, dois meses? E se o objectivo das operações de repovoamento é aumentar a densidade populacional da espécie, seguir os indivíduos por uma ou duas semanas, dar o estudo por terminado e comunicar eventuais taxas de sobrevivência como sinónimo de sucesso, é muito redutor. Se os coelhos morrerem todos ao fim de um mês e nunca se reproduzirem, a operação foi um fracasso independentemente dos números apresentados duas semanas antes.
Este trabalho relata os resultados de duas operações de repovoamento com coelho-bravo cuja maior diferença foi a duração do período de aclimatação. Depois de abertos os parques, os animais foram seguidos durante o maior tempo possível.
Os resultados foram claros: os coelhos que fizeram uma aclimatação longa de 65 dias, tiveram melhor desempenho quer a nível de sobrevivência quer de movimentação, quando comparados com os que fizeram uma aclimatação de 17 dias.
Os primeiros, 65 dias volvidos após a abertura do parque apresentavam uma taxa de sobrevivência de 0,33 e a monitorização terminou por se terem esgotado as baterias das coleiras. Os segundos, estavam todos mortos ao 53º dia após a abertura do parque (principalmente por predação).
O estudo inclui detalhes e resultados adicionais, mas a informação a reter é de que os resultados sugerem (e corroboram) que condições propícias de aclimatação podem contribuir para o sucesso de operações de repovoamento com coelho-bravo.